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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A necessidade de avaliações, atividades, trabalhos, testes e suas cobranças

Para saber da necessidade de todo trabalho e cobrança que passo em sala de aula é preciso refletir sobre a pergunta abaixo.

Professor como construtor de labirintos: provocar confusão e maravilha ou deixar os alunos morrendo no deserto?

Sempre quando vou preparar as aulas eu me lembro desse conto de Borges sobre 2 reis e 2 labirintos.

 “Contam os homens dignos de fé (porém Alá sabe mais) que nos primeiros dias houve um rei das ilhas da Babilônia que reuniu seus arquitetos e magos e ordenou a construção de um labirinto tão perfeito e sutil que os varões mais prudentes não se aventuravam a entrar nele, e os que nele entravam se perdiam. Essa obra era um escândalo, pois a confusão e a maravilha são atitudes próprias de Deus e não dos homens. Com o correr do tempo, chegou a corte um rei dos árabes, e o rei da Babilônia (para zombar da simplicidade de seu hóspede) fez com que ele penetrasse no labirinto, onde vagueou humilhado e confuso até o fim da tarde.
Implorou então o socorro divino e encontrou a saída. Seus lábios não pronunciaram nenhuma queixa, mas disse ao rei da Babilônia que tinha na Arábia um labirinto melhor e, se Deus quisesse, lho daria a conhecer algum dia. Depois regressou à Arábia, juntou seus capitães e alcaides e arrasou os reinos da babilônia com tão venturoso acerto que derrubou seus castelos, dizimou sua gente e fez prisioneiro o próprio rei. Amarrou-o sobre um camelo veloz e levou- o para o deserto. Cavalgaram três dias, e lhe disse: “ Oh, rei do tempo e substância e símbolo do século, na Babilônia me quiseste perder num labirinto de bronze com muitas escadas, portas e muros; agora o poderoso achou por bem que te mostre o meu, onde não há escadas a subir, nem portas a forçar, nem cansativas galerias a percorrer, nem muros que te impeçam os passos.”
Em seguida, desatou-lhe as ligaduras e o abandonou no meio do deserto, onde morreu de fome e de sede.”
Como um labirinto a ser visitado, a matéria de cada professor nos promete barreiras,  corredores, surpresas e caminhos desconhecidos e cada aluno estabelece relações próprias entre diversos caminhos. Não conseguimos avistar o horizonte e muitas vezes nos chocamos com as enormes paredes, nos perdemos entre os corredores e acabamos em caminho que já passamos entre as perguntas em sala, a fala do professor, o que o professor escreve no quadro, os trabalhos, as provas, os textos. Não seria mais facil não ter nada disso?

Isso talvez leve o aluno ao sentimento de angústia por não saber qual caminho escolher, de se sentir aprisionado e de ter a necessidade de encontrar uma saída. E, além disso, são muitas vezes forçados a seguir caminho que parece não ter fim e que não leva a lugar nenhum.
                         
A confusão e a maravilha fazem parte na busca pelo conhecimento e num determinado momento podemos não perceber sua utilidade. Mas existem labirintos melhores como no conto de Borges, aquele em que podemos ver o horizonte, pois não tem paredes, estamos livres, não temos trabalho e não nos sentimos aprisionados. E no deserto, em qualquer lugar estamos no centro e nem mesmo precisamos sair do lugar para encontrar a saída, pois ficaremos sempre ali, o deserto já é a saída. O pior labirinto que pode ser construído é o deserto, sem obstáculos, sem paredes, que nos leva a morrer de fome e sede. Não prefiram o deserto como seus labirintos.

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